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Saiba o que é estenose aórtica e como tratar essa doença

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postado em 24 de agosto de 2015

Conversamos com o Dr. Luiz Alberto Mattos, Coordenador dos Serviços de Hemodinâmica e Intervenção Cardiovascular do Hospital São Luiz Morumbi, para saber mais sobre a estenose aórtica, problema que pode afetar até 5% da população com mais de 65 anos. Mattos também comenta sobre o recente desenvolvimento de técnica dedicada ao implante de uma nova valva aórtica por meio de cateterismo, o que provoca incisão mínima na perna ou no tórax.

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O que é estenose aórtica?
O coração humano, órgão único e responsável pela circulação de sangue no nosso organismo, é composto, principalmente, de músculo estriado cardíaco e apresenta quatro cavidades. Essas cavidades são os locais onde o sangue é armazenado e rapidamente transferido para oxigenação nos pulmões e posterior distribuição pelos órgãos do corpo.

Estas cavidades são separadas por válvulas que funcionam sincronicamente, sem interrupção, ao longo de toda a nossa vida, abrindo e se fechando, regulando a entrada e saída de sangue deste órgão.

Uma destas quatro se constitui na principal, a valva aórtica. Ela é responsável pela regulação da saída de sangue do coração quando da sua distribuição sistêmica.
A estenose nada mais é do que a obstrução da valva devido a calcificação e enrijecimento causados pelo processo de envelhecimento, além da influência da aterogenese e processos inflamatórios crônicos.

Quais as consequências desta obstrução?
A imobilidade dos folhetos da valva decorrentes da calcificação causa uma dificuldade de ejeção do sangue do coração para a circulação do corpo todo.
Essa degeneração é progressiva e irreversível. Não existem remédios que reduzam a sua progressão, principalmente quando já estabelecida.

A dificuldade progressiva da valva aórtica em funcionar corretamente promove aumento da pressão dentro do coração. Isso acaba desgastando o músculo cardíaco até a sua exaustão, caso não seja tratado em tempo hábil.

Quais os sintomas?
Dor no peito que simula a angina, que ocorre quando as artérias coronárias são obstruídas e durante o infarto.

Nos casos que não são diagnosticados, nem tão pouco tratados, a sequência será: falta de ar, sinais de insuficiência do coração, edema dos membros inferiores e, na situação final, desmaios.

Como é feito o diagnóstico?
A suspeita clínica é confirmada de imediato com o exame clínico do paciente. A ausculta do coração com um estetoscópio revela a presença de um sopro cardíaco marcante. O exame de ecocardiograma confirmará estes achados e a classificação do risco da doença.

Qual o tratamento?
Até o início deste século, o único tratamento eficaz era a cirurgia do coração com esternotomia: a abertura do osso central do tórax, mediante anestesia geral, e a troca da valva aórtica doente por uma prótese, similar à humana, construída com material bovino ou suíno, ou valvas metálicas.

Os resultados eram seguros e eficazes com a cirurgia?
Sim, porém este método apresenta algumas dificuldades. Os riscos imediatos, de morte ou ocorrência de derrame cerebral após o procedimento, aumentam com o avançar da idade biológica, principalmente se associado a presença de outras doenças. Estes riscos para os pacientes são uma evidencia inegável, já que esta é uma doença associada a velhice.

Além disso, as próteses possuem uma vida útil limitada (menor do que 10 anos, em média, nas biológicas, e maior nas metálicas que demandam, porém, a utilização de remédio anticoagulante, aqueles que reduzam a coagulação normal do corpo, para o resto da vida).

Qual a nova possibilidade de tratamento da estenose aórtica que evita a cirurgia do coração?
Nos últimos 10 anos, avanços marcantes das técnicas que evitam a cirurgia cardíaca, de peito aberto, ocorreram. Houve o desenvolvimento de técnica dedicada ao implante de uma nova valva aórtica, uma prótese biológica, por meio de cateterismo, o que provoca incisão mínima na perna ou no tórax, ou mesmo somente punção.

Isto fez com que uma nova possibilidade de tratamento fosse apresentada para pacientes idosos, muitas vezes não tratados devido ao elevado risco de morte com a cirurgia convencional e frequentemente relegados a faleceram precocemente e com péssima qualidade de vida.

Quem são os candidatos para realizarem a troca da valva aórtica por meio de cateterismo?
Pacientes portadores de estenose da valva aórtica grave, sintomáticos e com idade superior a 75 anos, associado a evidência de outras doenças que promovam a elevação do risco de morte frente a submissão da cirurgia cardíaca de peito aberto.

Existem outros critérios para indicação?
Sim estes candidatos em potencial são submetidos a um rigoroso processo de seleção prévio ao procedimento por cateter para conferência das medidas da valva aórtica cardíaca estenosada, assim como do estado das artérias coronárias e da perna, local de acesso necessário para efetivação do procedimento. De cada 10 candidatos em potencial, em média, apenas 2 a 3 são rejeitados.

Como é feito o procedimento?
Sob anestesia geral na sala de hemodinâmica e cateterismo cardíaco. Nesta sala, que possui raio-X com definição visual de última geração, é feita uma dupla punção no nível da região inguinal, nas artérias femorais. Através de cateteres específicos, uma nova valva biológica é implantada sob a original doente.

Este procedimento tem duração média de 90 minutos e, após a finalização, o paciente é acordado de imediato, recebendo alta para a sala de repouso, lúcido e com apenas sinais de duas punções na região inguinal.

A taxa de sucesso é superior a 95% com ocorrência de mortalidade, ao final de um mês, inferior a 5% em pacientes idosos e portadores de outras doenças sistêmicas.

Este procedimento está disponível em todos os hospitais?
Poucos centros brasileiros (menos de 30) têm habilitação e oferecem ao paciente a multimodalidade de métodos de imagem e equipe treinada de cardiologista intervencionista.

Um deles é o Hospital São Luiz Morumbi. O primeiro procedimento foi feito com êxito em maio de 2013. Uma equipe multidisciplinar, com a minha coordenação (Dr. Luiz Alberto Mattos), comprovou o pioneirismo e a capacidade única assistencial disponibilizada aos pacientes por este hospital.

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Equipe do Hospital São Luiz Morumbi que em 2013 foi uma das pioneiras no procedimento de implante de uma nova valva aórtica por meio de cateterismo

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